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Apesar da alta de 1,1% nos serviços, agropecuária teve queda de 8% e indústria ficou estagnada. Resultado também foi pressionado pela queda de 9,8% nas exportações de bens e serviços.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil caiu 0,1% no 3º trimestre de 2021, na comparação com os três meses imediatamente anteriores, confirmando a entrada do país em uma nova recessão técnica, segundo divulgou nesta quinta-feira (2) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação a igual período de 2020, houve crescimento de 4%.
Os dados oficiais reforçam a leitura de forte desaceleração da recuperação da economia após o PIB ter conseguido retomar no início do ano o patamar pré-pandemia.
A recessão técnica é caracteriza por dois trimestre seguidos de retração. A última tinha sido registrada nos dois primeiros trimestres de 2020, quando o PIB ‘encolheu’ 2,3% e, em seguida, 8,9%.
Variação trimestral do PIB — Foto: Elcio Horiuchi e Guilherme Luiz Pinheiro/G1
O resultado do 2º trimestre do ano foi revisado para uma queda de -0,4%, contra leitura inicial de queda de -0,1%. O IBGE também revisou o resultado da alta do 1º trimestre, de 1,2% para 1,3%.
“O PIB está no patamar do fim de 2019 e início de 2020, período pré-pandemia, e ainda está 3,4% abaixo do ponto mais alto da atividade econômica na série histórica, alcançado no primeiro trimestre de 2014”, destacou o IBGE.
‘Queda já era esperada’, diz Maíson da Nobrega sobre resultado do PIB do 3º trimestre
O resultado veio um pouco pior do que o esperado. A expectativa em pesquisa da Reuters era de estabilidade no 3º trimestre sobre os três meses anteriores.
O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e é o principal indicador usado para medir a evolução da economia.
No acumulado do ano até setembro, o PIB avançou 5,7% contra igual período do ano passado. Na soma dos últimos 4 trimestres, o avanço é de 3,9%.
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Principais destaques do PIB no 3º trimestre:
- Agropecuária: -8%
- Indústria: zero
- Serviços: 1,1%
- Consumo das famílias: 0,9%
- Consumo do governo: 0,8%
- Investimento (FBCF): -0,1%
- Importação: -8,3%
- Exportação: -9,8%
- Construção: 3,9%
- Comércio: -0,4%
- Indústria de transformação: -1%
- Indústria extrativa: -0,4%
PIB sob a ótica da oferta — Foto: Elcio Horiuchi e Guilherme Luiz Pinheiro/G1
- O que puxou a queda
Apesar da alta de 1,1% nos serviços, que respondem por mais de 70% do PIB nacional, a queda no 3º trimestre foi pressionada para baixo por conta da queda de 8% na agropecuária e também pela queda de 9,8% nas exportações de bens e serviços.
Já a indústria, que responde por cerca de 20% do PIB, ficou estagnada, afetada pelo encarecimento dos insumos e outros problemas na cadeia produtiva, além da crise energética.
Segundo o IBGE, o forte recuo na agropecuária foi consequência do encerramento da safra de soja, que também acabou impactando as exportações. Foi o pior tombo trimestral do setor desde o 1º trimestre de 2012 (-19,6%).
“Como ela é a principal commodity brasileira, a produção agrícola tende a ser menor a partir do segundo semestre. Além disso, a agropecuária vem de uma base de comparação alta, já que foi a atividade que mais cresceu no período de pandemia e, para este ano, as perspectivas não foram tão positivas, em ano de bienalidade negativa para o café e com a ocorrência de fatores climáticos adversos na época do plantio de alguns grãos”, explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
Recuperação em raiz quadrada — Foto: Economia g1
Já o crescimento dos serviços foi puxado por outras atividades (4,4%), que reúnem os serviços prestados às famílias.
“Com o avanço da vacinação contra Covid-19 e o consequente aumento da mobilidade e reabertura da economia, as famílias passaram a consumir menos bens e mais serviços”, destacou a pesquisadora.
Cinco atividades de serviços apresentaram crescimento: outras atividades de serviços (4,4%), informação e comunicação (2,4%), transporte, armazenagem e correio (1,2%), administração, defesa, saúde e educação públicas e seguridade social (0,8%). As atividades imobiliárias (0,0%) ficaram estáveis e apenas as atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (-0,5%) e comércio (-0,4%) registraram queda.
“A queda nos serviços financeiros se deve em grande parte ao aumento nos sinistros de planos de saúde, por causa da pandemia”, observou Palis.
PIB sob a ótica da demanda — Foto: Elcio Horiuchi e Guilherme Luiz Pinheiro/G1
Consumo de serviços represado
Pela ótica da despesa, o consumo das famílias teve expansão de 0,9%, em relação ao trimestre imediatamente anterior. Já a despesa de consumo do governo cresceu 0,8%.
Segundo o IBGE, o crescimento do consumo das famílias mesmo com uma inflação nas alturas e renda em queda é explicado pelo aumento na ocupação no mercado de trabalho e pelo avanço da vacinação.
“O aumento do consumo das famílias tem a ver com consumo de serviços, que a gente vê com a reabertura, avanço da vacinação, aumento da mobilidade e o consumo represado, que tem feito as famílias migrarem do consumo de bens para o consumo de serviços”, explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
“O consumo estava muito represado, tanto que a gente tem visto um crescimento da poupança durante vários trimestres. Quem consome mais serviços são as famílias com maior poder aquisitivo, que foram as que mais pouparam e estavam com consumo de serviços represados. Não é que elas não tinham recursos pra consumir”, acrescentou.
Investimentos caem pelo 2º trimestre seguido
Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) tiveram queda de 0,1%, após recuo de 3% no 2º trimestre. A taxa de investimento no 3º trimestre foi de 19,4% do PIB contra 16,4% no mesmo período do ano anterior, mas ainda abaixo do patamar de 2013, quando alcançou quase 21%.
Já a taxa de poupança foi de 18,6%, maior que os 16,2% obtidos no mesmo período de 2020.
Revisão do tombo de 2020
Na divulgação do terceiro trimestre de cada ano, o IBGE costuma realizar uma revisão abrangente das Contas Nacionais Trimestrais. Nesse sentido, o resultado do PIB de 2020 foi revisado para uma queda de 3,9%, ante leitura inicial de um tombo de 4,1%.
Piora das expectativas
A economia brasileira vem perdendo o ímpeto mesmo com a reabertura do setor de serviços e fim de boa parte das medidas restritivas lançadas no país para frear o avanço da Covid-19 desde o começo do ano passado.
Desde setembro, as projeções para a economia têm sido revisadas continuamente para baixo, em meio à disparada da inflação e aumento das incertezas fiscais após as manobras do governo para driblar o teto de gastos e abrir espaço no Orçamento no ano eleitoral de 2022.
As preocupações com a saúde das contas públicas, o desemprego ainda elevado e a elevação em ritmo acelerado da taxa básica de juros para conter a inflação vêm provocando uma redução da confiança de empresários e consumidores.
PIB dos países no 3º trimestre — Foto: Elcio Horiuchi e Guilherme Luiz Pinheiro/G1
Segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), a inadimplência subiu em novembro, para o maior patamar do ano, com 26,1% das famílias relatando ter dívidas ou contas em atraso.
A média atual das projeções do mercado financeiro apontam para alta de 4,78% do PIB em 2021 e de 0,58% em 2022, bem abaixo da média global e a pior perspectiva entre os países do G20. E parte dos analistas apontam para o risco de retração no ano que vem.
Com o resultado do 3º trimestre pior do que o esperado, os analistas já começam a revisar para baixo as projeções para o PIB do ano. O banco Modalmais, por exemplo, agora prevê crescimento de 4,6% em 2021, ante previsão anterior de 4,8%.
Por Darlan Alvarenga e Fernanda Martinez, g1